sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Um cuidado que se aprende na escola

Fonte: O Globo - 21.07.2009

Rio de Janeiro - Quando procurou a escola em que matricularia o filho de apenas 1 ano, o cirurgião Marco Dahia levou em conta, é claro, a proposta pedagógica e os bons resultados em concursos. Mas a ideia de ter o filho numa escola com um conceito sustentável também pesou na hora da escolha. Foi unindo os dois aspectos que seu filho hoje é um dos alunos do Colégio Mopi da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Após mais de três décadas na Tijuca, o colégio abriu a filial no início deste ano."Além do Mopi ter tido ótima posição no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e da relação humana com os alunos, gostei de ver as salas claras mesmo com luzes desligadas e toda a proposta sustentável da escola. Lá sei que ele pode aprender os cuidados para se relacionar melhor com a natureza, como economia de água e energia", espera Marco, que anda recolhendo todas as garrafas pet em casa para uso nos trabalhos manuais do filho.Logo de cara, na fachada, já se percebe uma diferença no Mopi da Barra. Feita com madeira de reflorestamento - eucalipto - e uma espécie de tela de cobre microperfurado, ela lembra uma árvore. A tela filtra a luz, melhorando a iluminação, e deixa o vento passar, diminuindo o calor no prédio e, por consequência, o uso do ar condicionado.Os arquitetos responsáveis, Rafael Patalano e Ivo Mareines, tiveram a sorte de construir a escola do zero. A transformação de um prédio antigo numa escola sustentável é mais complicada. Foram projetados quatro prédios interligados, facilitando a circulação de vento entre eles.As salas claras mesmo sem iluminação artificial, elogiadas pelo pai, têm paredes de vidro temperado translúcido.Lâmpadas fluorescentes são ligadas só em dias bem nublados ou no fim da tarde. Há um projeto ainda não executado para diminuir a intensidade das luzes de acordo com a necessidade.Trata-se de uma tecnologia cara, os dimerizadores, mas que em alguns lugares do mundo recebe até incentivo dos governos.As salas dos fundos da escola, onde funcionam áreas administativa, pedagógica e aulas de matérias complementares, não têm paredes de vidro. Para evitar o aquecimento, as paredes são formadas por painéis térmicos, com isopor por dentro.A escola usa energia solar para esquentar a água da piscina e de chuveiros. A água da chuva é captada para uso nos vasos sanitários. Todas as torneiras têm temporizadores. O piso do pátio é reciclado (feito com mistura de plástico e borracha), o que o torna mais macio para amenizar possíveis quedas e, por ser intertravado, absorve bem a água da chuva. Não há degraus, a escola é toda acessível por rampas e corredores largos. O projeto existia há quatro anos, mas demorou a sair do papel porque não era barato.Algumas obras, como o telhado jardinado para isolamento térmico e o sistema de energia solar para os chuveiros perto da piscina, devem ser concluídas no fim do ano.O diretor do Mopi Barra, Vicente Canedo, entende que os pais têm outras prioridades ao escolher a escola do filho, mas entende também que os colégios precisam dar o exemplo ao tratar de seus impactos ambientais. Até nas aulas sobre meio ambiente, os professores podem usar alguns recursos da escola como exemplo.Por isso, ele acredita que vale a pena o investimento: "A estrutura sustentável encarece a obra, mas no longo prazo há economia. Além do mais, tem coisas que logo deixarão de ser opcionais em construções", acredita Canedo.