terça-feira, 19 de maio de 2009

Aquecedores Solares MG

Fonte: Estado de Minas - 18.05.2009
Minas Gerais - Está nas mãos dos vereadores de Belo Horizonte tornar a capital mineira uma cidade solar. Nesta semana, prefeitura e Legislativo discutem o Projeto de Lei 64/2009, do vereador Fred Costa (PHS), que obriga novos prédios e casas (com até três banheiros) construídos na cidade a instalarem sistema de aquecimento de água por meio de aproveitamento da energia do sol. A proposta está na pauta de votação da Câmara em primeiro turno, mas o governo quer escrever um texto de consenso com os vereadores, para dar agilidade à sua aprovação. A iniciativa se soma à proposta de desconto, que pode ser de até 30%, no IPTU para donos de imóveis com aquecimento solar, um dos artigos prometidos para o projeto de lei sobre reajustes no imposto, que ainda será apresentado pelo Executivo. Se aprovadas, as propostas confirmarão Belo Horizonte na rota das boas práticas socioambientais, exemplo já seguido por vários municípios onde projetos semelhantes estão em discussão ou já foram aprovados.Como ocorre em outras cidades, a proposta de obrigatoriedade do aquecimento solar se estende a edificações que tenham piscina aquecida e cai por terra apenas quando o dono do imóvel comprova que o sistema é tecnicamente inviável. É o caso de construções que estão à sombra de prédios maiores ou outros obstáculos. Fornecedores do sistema comemoram a iniciativa, mas avisam: antes mesmo que o poder público adote as medidas, milhares de moradores da capital estarão adiantados. Nos últimos 30 anos, os construtores de prédios instalaram sistemas de aquecimento solar que colocam a capital como principal referência no continente. “Pelo menos 2,5 mil edifícios da cidade têm sistema de aquecimento solar. Não temos dúvida de que se trata do maior volume da América Latina”, afirma Marcos Pimenta, secretário-executivo da BH Solar, entidade que reúne as principais empresas do setor na capital. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) não faz perguntas sobre o tema na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), por isso não é possível dizer quantas casas e prédios têm sistemas de aquecimento solar. Mas, dois especialistas confirmam a fama da capital mineira. “A cidade tem sido um exemplo, em todos os sentidos. Belo Horizonte desenvolveu um conhecimento sobre aquecimento central e distribuição de água aquecida, sem desperdício, que é referência na engenharia”, diz o pesquisador Délcio Rodrigues, da ONG paulista Vitae Civilis, que desde o fim dos anos 1980 promove iniciativas de desenvolvimento sustentável. A cidade de São Paulo aprovou, recentemente, legislação semelhante à que está em discussão na Câmara de BH e obrigou novas construções a usarem o equipamento de captação solar. Para ajudar a pôr a lei em prática, a Vitae Civilis tem promovido cursos sobre o tema para engenheiros, arquitetos e profissionais da área de manutenção na capital paulista. As aulas são ministradas por projetistas mineiros. A explicação para o desenvolvimento desse tipo de tecnologia em BH, principalmente relacionada à instalação de sistemas em prédios, é muito simples, garante a física e coordenadora do Grupo de Estudos em Energia Solar (Green), da PUC Minas, Elizabeth Duarte.Por volta dos anos 1970, a Cemig apostou no incentivo ao uso da energia solar em aquecedores de água por causa do pico de consumo de energia elétrica entre as 18h e 20h, período em que a maioria das pessoas toma banho, depois do trabalho. Na época, Elizabeth era professora da UFMG e desenvolveu os primeiros projetos em parceria com técnicos da Cemig. “Eles já tinham uma visão de que seriam uma companhia de energia, não apenas de energia elétrica. Acreditavam, como nós da academia, que a solução energética do país passava por um mix de tecnologias”, lembra a pesquisadora. Cultura - Os primeiros sistemas solares centrais foram doados a grandes empreendimentos da capital, a experiência de engenharia também foi colocada à disposição. Resultado: criou-se uma cultura dentro das construtoras, que, depois disso, passaram a trabalhar sozinhas. Para ver esse trabalho de perto, basta subir em um prédio bem alto da Região Centro-Sul da capital e observar as placas coletoras, sempre direcionadas para o Norte. Nos bairros de Lourdes, Funcionários e Santo Agostinho elas se espalham em profusão. “Quando decidimos investir em apart-hotel, há 20 anos, sabíamos que era preciso fazer um empreendimento com custo operacional baixo. A construtora sugeriu a energia solar, sabia como fazer o projeto. Valeu a pena”, conta a empresária Sheila Fagundes, dona do Apart-Hotel Clan Le Flamboyant, no Bairro Funcionários, considerado um dos primeiros prédios a ter aquecimento de água central por meio de energia solar na capital. Duas décadas depois de instalado, pela primeira vez ela diz ter sido preciso fazer a manutenção total do sistema. “O custo inicial é sempre um pouco maior, mas, com o tempo, compensa”, afirma. Se o problema é dinheiro, a pesquisadora da PUC Minas Elizabeth Duarte cita a experiência de Israel, um dos primeiros países a obrigar o favorecimento à energia solar, ainda na década de 1980. “Muitas famílias terminam a construção sem dinheiro. Mas a lei deles determinou apenas que as casas tivessem duas tubulações, para água quente e fria. Isso fez com que as famílias ficassem aptas a instalar o sistema a qualquer momento”, afirma. Curiosamente, Elizabeth nunca teve energia solar em casa. Não porque desconfiasse da efetividade do sistema. “Testo coletores desde 1984. Quis comprar equipamentos, mas os fabricantes sempre quiseram dar de presente. Nunca aceitei”, afirma a pesquisadora. Em tempo: nos próximos dias ela vai se mudar para um prédio. Escolheu um com aquecimento de água por energia solar.