quarta-feira, 3 de junho de 2009

Fabricantes disputam mercado de energia solar


Fonte: Estado de São Paulo - 29.05.2009
Brasil - A grande onda em prol do uso do aquecimento solar fez multiplicar os tipos de sistemas disponíveis no mercado. Estimulados pela demanda crescente, empresários, pesquisadores e especialistas tentam desatar o principal nó do sistema, o preço, tanto do equipamento quanto da instalação.O mercado já vinha trabalhando com formatações de capacidade menor, porém mantendo os coletores metálicos e sistema alternativo de aquecimento por acumulação, com custo entre R$ 1.200 e R$ 1.500. Nos últimos anos foram lançadas configurações mais baratas, os chamados híbridos. Custam de R$ 600 a R$ 700; têm capacidade para esquentar de 100 a 200 litros o suficiente para uma família de até quatro pessoas; usam chuveiro elétrico para garantir um banho quente nos dias nublados ou chuvosos, além de coletores de plástico (termoplástico, poliuretano e até PVC).A eficiência e conveniência desses sistemas, porém, provocam polêmica entre os fabricantes, que disputam palmo a palmo o crescente mercado, incluindo os fabricantes de chuveiros elétricos. Os fabricantes destes equipamentos, considerados os vilões do consumo de energia, defendem-se apontando o alto desperdício de água que pode haver nos sistemas com aquecimento por acumulação e ducha fria. E apostam nos "híbridos" (com chuveiro elétrico) para se manter no mercado.Os defensores do aquecimento solar rebatem que o problema é facilmente resolvido controlando a vazão, por exemplo, com o uso de chuveiro elétrico como apoio. Há ainda outra cizânia, entre os fabricantes de sistemas de aquecimento solar que defendem as configurações de baixo custo, e investem nelas, e os que são contrários a isso, com o argumento de que a baixa eficiência pode comprometer a adesão em massa ao sistema.Para o consumidor, é difícil entender a diferença de preço; o sistema de alto desempenho fica em pouco mais de R$ 4 mil, ou de funcionamento, e a polêmica aumenta ainda mais a sua insegurança.Custo-benefício"O primeiro cuidado é ver se o produto tem o selo do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial), que certifica a eficiência do sistema", diz o engenheiro e pesquisador do Laboratório de Instalações Prediais do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Douglas Messina. O selo traz a classificação do produto, segunda informação importante na hora da compra."A classe indica a faixa de produção de energia", explica o diretor técnico da Soletrol Tecnologia, Luciano Torres Pereira. A empresa fabrica sistemas de alto rendimento, para chuveiro e piscinas, e outros dois de baixo custo, um com coletor de metal e um híbrido com coletor de termoplástico.Equipamentos classe A produzem mais de 77 quilowatts/mês por metro quadrado de coletor. "Como a produção depende da insolação, isso varia. O valor estabelecido na norma é o obtido em Belo Horizonte (MG), em setembro, com inclinação de 25 graus do coletor orientado para o Norte geográfico", diz Pereira. Para São Paulo, é preciso 1,5 metro quadrado de coletor para obter o mesmo desempenho de um com 1 metro quadrado em Belo Horizonte.Há ainda opções de coletores abertos ou fechados e boilers, o reservatório de água quente de várias capacidades. Somando todos esses dados, o consumidor pode avaliar se o desempenho do sistema atende às suas necessidades. Pereira dá exemplos. "Para esquentar a água da piscina, indicado é o coletor aberto", diz. O vidro reflete 13% da incidência solar, um desperdício desnecessário em sistemas que devem elevar a temperatura da água a até 35 graus, a ideal para piscinas. "Já para temperaturas mais altas, os fechados são mais eficientes."O boiler de 100 litros alimenta um ponto de água. Com 200 litros e chuveiro elétrico, se esquenta água para uma família de quatro pessoas.Estímulo com plano habitacionalA instalação de sistema de aquecimento solar (SAS) em casas populares, indicada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) como medida de uso racional de energia, estimulou a adoção da tecnologia em programas habitacionais, o que vem movimentando o mercado. Atualmente, segundo o engenheiro Alexandre Salomão de Andrade, do laboratório Green Solar, da PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), há cerca de 15 mil casas populares com SAS no país. Só o contrato de compra do CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) dobrará esse número.Somam-se também 7 mil casas, previstas pela Cohab de MG, além das unidades do “Minha Casa, Minha Vida”, calculadas em 1 milhão.“No programa, o aquecimento solar é responsável pelo aumento de apenas R$ 3 nas parcelas”, diz o coordenador do Departamento Nacional de Aquecimento Solar (Dasol/Abrava), Carlos Felipe da Cunha Faria. O programa prevê a adoção de SAS classe A (o mais eficiente) no Sul, Sudeste e Centro-Oeste.Esse incentivo à instalação do SAS pelo governo federal baseia-se em estudo realizado pelo Green Solar em 100 casas em Contagem (MG) em 2000. Como SAS, a economia de energia foi de 36%, diz Salomão. O equipamento tem capacidade para 200 litros. “O pacote vinha com sistema elétrico automático, mas para economizar as famílias desligavam-no.”IPT aprova sistemas híbridosO engenheiro Douglas Messina, do Laboratório de Instalações Prediais do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), monitora um conjunto habitacional de Cafelândia (SP), onde a Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano (CDHU) instalou 50 equipamentos de aquecimento solar no fim de 2005.O acompanhamento do IPT avalia a redução no consumo de energia e a eficiência do uso do chuveiro elétrico como apoio, no lugar da resistência no reservatório. "Ainda não consolidamos os dados, mas a economia é flagrante. Também não houve nenhum tipo de limitação com o uso do chuveiro", diz.O laboratório de Messina é um dos que estão creditados pelo Inmetro para fazer os ensaios e emitir o selo. Segundo ele, os ensaios estão evoluindo da mesma forma que as configurações e materiais dos equipamentos. Ensaios que determinem a durabilidade dos coletores, por exemplo, não são feitos. "A norma avalia a resistência do material, mas não a sua durabilidade. Isso está em estudo e deverá entrar na próxima revisão", explica.O resultado positivo da experiência em Cafelândia levou a CDHU a fechar um contrato para instalação de 15 mil equipamentos em residências populares que serão construídas no interior paulista. A licitação foi vencida por seis fabricantes, que deverão cumprir uma rotina de medição e verificação que comprove o desempenho do sistema. O preço médio de cada equipamento, que tem reservatório em aço inox, coletor metálico com capacidade de produção de 142,6 kW/mês, ficou em R$ 1.700.Além disso, tem instalados sistemas em unidades já prontas, financiadas pelo programa da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para tornar mais racional o consumo de energia. "Usamos o programa para equipar as unidades já prontas", diz o gestor de Eficiência Energética da CDHU, Eduardo Baldacci.